Artigo produzido pelos médicos do Corpo Clínico da CEDIPI

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é um orthopneumovirus pertencente à família Paramyxoviridae, altamente contagioso, que infecta de forma mais grave lactentes com menos de seis meses de idade e crianças pequenas, causando epidemias anuais de doença respiratória aguda, como bronquiolite e pneumonia.

Nesta faixa etária é importante causa de mortalidade principalmente em países em desenvolvimento. No momento atual estamos com as UTIS pediátricas lotadas de crianças com desconforto respiratório grave, sendo a maioria pelo VSR.Em adultos saudáveis, o VSR causa sintomas geralmente leves, semelhantes aos que ocorrem com o resfriado comum.

Porém, em pessoas idosas, pessoas com comorbidades como por exemplo asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes, cardiopatias e em imunocomprometidos, existe alto risco de formas graves e complicações da doença e, por vezes, evolução fatal.

O desenvolvimento de uma vacina eficaz para lactentes esbarra na relativa imaturidade do sistema imunológico infantil e na presença de anticorpos maternos contra VSR, que dificultam respostas imunes robustas induzidas pela vacina.

A tentativa de desenvolvimento de vacina para VSR já ocorre desde os anos 1966, mas naquela ocasião as vacinas desenvolvidas com a tecnologia vigente não se mostraram eficazes e com reações adversas que impediram sua utilização.

Com o desenvolvimento da tecnologia na produção de vacinas em anos recentes, pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, estudando a biologia estrutural do VSR, notaram que o vírus usa a Proteína de Fusão F, uma molécula na superfície do vírus para infectar células humanas.

Em 2013 publicaram suas descobertas sobre uma Proteína F de pré-fusão, capaz de induzir anticorpos neutralizantes contra o VSR. Esses estudos permitiram que laboratórios como GSK, Pfizer e Moderna, desenvolvessem suas vacinas contra VSR que encontram-se atualmente em fase de submissão a aprovação pelos diversos órgãos regulatórios.

Em maio de 2023 a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou a vacina da GSK contra o VSR, para uso em pessoas com 60 anos ou mais de idade, com base em ensaios clínicos de fase III. Estas investigações clínicas mostraram que a vacina de Proteína F de pré-fusão é eficaz e segura, reduzindo o risco de pessoas desta faixa etária desenvolverem doença do sistema respiratório inferior por VSR em 82,6% e de evitar doença grave em 94,1%.

O estudo foi realizado em 36.000 adultos com mais de 60 anos, em 7 países, indicando robustez dos resultados.

A farmacêutica Pfizer também desenvolveu uma vacina bivalente contra VSR, baseada na Proteína F de pré-fusão, para indivíduos com idade igual ou superior aos 60 anos, na dose 120ug (subgrupos A e B do VSR, 60ug cada), Esta vacina mostrou eficácia de 83% para prevenção de doença do trato respiratório inferior, sem reações adversas importantes, e sem maiores preocupações quanto a segurança. Já foi aprovada pelo FDA (EUA).

Como o sistema imunológico dos recém nascidos não responde plenamente contra antígenos vacinais, a Pfizer optou pela estratégia de vacinação de gestantes para proteção do bebê nos primeiros meses de vida, através da passagem dos anticorpos maternos transmitidos via transplacentária ao feto.

Trata-se de uma vacina bivalente de Proteína F de pré-fusão dos sorogrupos A e B do VSR, que se mostrou eficaz na proteção de lactentes contra doença grave do trato respiratório inferior causada pelo VSR.

No estudo que envolveu 7400 gestantes, a eficácia para os bebês até os 6 meses de vida foi de 51,3% , mas chegou a 81,8% para casos graves até 90 dias de vida, declinando para 69,4% até 180 dias de vida.

Além das vacinas, vale lembrar a utilização de anticorpos monoclonais para prevenção de VSR nos bebês. Temos já há vários anos o Palivizumab e está prestes a ser comercializado Nirsevimab, um novo monoclonal que mostrou eficácia protetora contra infecções por VSR e hospitalizações por até 5 meses (151 dias), o que permitiria o uso de uma única dose em cada estação do ano onde a incidência do vírus é maior.

(Sanofi/Astrazeneca) que com dose única demonstrou eficácia de 80% para casos graves de infecção pelo VSR foi aprovado na Europa (EMA) em outubro de 2022 e FDA (EUA) em janeiro de 2023.